quinta-feira, 9 de fevereiro de 2012

Sobre Mallu


Numa noite dessas, eu tava ouvindo o último album da Mallu (que já não leva o Magalhães no nome artístico) e confesso que durante a audição uma coisa me incomodava muito: a atmosfera criada e as sensações, pelo menos a mim, eram muito parecidas com as experienciadas ao escutar o último álbum de Marcelo Camelo, chamado Toque Dela. 

A partir daí, quase que involuntariamente, me vieram à mente uma série de pontos em comum entre os dois álbuns. Começo com a concepção artística já presentes nos encartes dos respectivos álbuns e o que temos aí? Ambos apresentam uma cor uniforme ao fundo, com uma figura que se sobrepõe a esse fundo (é válido reforçar aqui, que minha experiência, foi extremamente sensorial, não tão racional quanto pode parecer), tendo a parcela principal desse plano mais exterior centralizada na capa. Como vocês vão perceber ao analisar ambas as capas, elas não são parecidas, mas possuem um conceito de minimalismo e simplicidade bem presentes, portanto, nada de tão relevante. 

A partir daqui, vamos ao que interessa de fato: a música. Tanto no álbum de Camelo, quanto no de sua esposa, estão presentes a mesma combinação de efeitos de guitarra (creio eu que seja um pedal set de "reverb + overdrive", ambos vintage, passando exatamente essa sensação de que as guitarras de ambos os álbuns pertencem a uma época bem anterior à que nos encontramos) e, algo que me chama a atenção desde o primeiro álbum-solo do autor carioca, a presença marcante de bumbos. Ok, a verdade é que Camelo é produtor tanto de seus próprios álbuns quanto do Pitanga (o tal álbum da Mallu), portanto, se ambos têm sonoridade similar, não há com que se espantar. 

Agora, um fator que me é muito incômodo e, aqui sim, não há como escapar, é a similaridade entre algumas das composições da ex-Magalhães e as de seu marido. Não falo somente da inserção de uma sonoridade mais próxima da mpb e mais distante do rock, assim como o fez Camelo lá atrás no Los Hermanos, pretendo focar mais nas letras. Então, lembram da "morena" de Marcelo? Essa tal "morena" é uma figura presente na música brasileira já faz algum tempo, sendo musa de Noel Rosa a Dorival Caymmi e, mais recentemente (pode-se dizer que, pelo menos, desde 2005, ano de lançamento do último álbum dos barbudos do Los Hermanos, banda que elevou Marcelo Camelo a seu atual status de intocável na música brasileira), o "cara estranho" de Jacarepaguá. O fato é que, depois que os dois engataram namoro, a moça já lançou dois álbuns e, desde então, a figura do "moreno", simplesmente, surgiu em suas músicas. Não tendo aparecido em nenhuma de suas composições da fase inicial, tanto o "moreno man" (presente na faixa Ricardo, do álbum homônimo lançado por ela em 2009) quanto o "moreno do cabelo enroladinho" (presente em Olha Só Moreno, extraída de seu álbum mais recente) passaram a fazer parte do imaginário criativo da jovem paulistana. E então? Suspeito? Estranho? Incômodo? Prossigo abaixo.

Se tivesse parado por aí, confesso que teria ficado incomodado, como fico desde que ouvi "Versinho de Número Um" (primeira faixa na carreira dela que me remeteu diretamente a Camelo) pela primeira vez, e só. Mas uma certa coincidência me levou a escrever o texto.

Lembram do relacionamento que a moça teve com o, também mais velho (apesar de a mídia ter se concentrado só no caso do ex-hermano), Hélio Flanders da banda Vanguart? A coincidência está no fato de que no início de carreira, quando a menina estourou, seu chamariz era, exatamente, a sua proximidade musical de caras como Bob Dylan e Johnny Cash (dos quais o Flanders é fã e, claramente, influenciado). Na época, os dois até chegaram a formar, juntos a Zé Massei (ex-baixista do já falecido Forgotten Boys), o Overcoming Trio. Ok, os dois tinham gostos convergentes e devem ter se dado bem, mas não seria bem oportuno estar próximo a um artista mais velho e respeitado no meio (exatamente o que a Mallu não era no início de carreira)?

Não pretendo acusar a Mallu de nada aqui, mas a situação me lembra bastante uma outra bem mais polêmica que se deu lá nos EUA, com uma tal de Courtney Love (e não me refiro ao fato de Mallu estar ficando "velha e louca"). Além dos boatos de que Kurt Cobain compôs boa parte (ou mesmo a totalidade) do melhor, talvez único bom, disco feito pelo Hole, banda de Courtney, a mesma se relacionou depois com o também guitarrista e compositor Billy Corgan (que, novamente por coincidência, talvez tivesse sido o grande gênio da geração dos anos 90 se não fosse Cobain, seus parceiros de banda e um certo Nevermind) que participou da produção de parte da obra do Hole (o que foi declarado pela própria Courtney Love). 
O quanto esses caras influenciaram a obra das moças? Quando tais reflexões me vieram à mente, cheguei a me questionar se estava sendo machista ou algo do tipo, ao considerar tanto a influência desses caras na música delas e não o contrário. Mas não podia deixar de compartilhar minhas reflexões...

Obs.: Quanto à comparação entre Mallu e Love, as situações são deveras distintas (devido à maturidade das respectivas moças nos momentos criativos relatados) mas o teor intuitivo das coincidências que fui encontrando é o que costura tudo isso que escrevi, então não vejo nenhum problema em comparar.

 
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